Livro
retrata Smurfs como personagens racistas, totalitários e antissemitas
Obra de Antoine Buéno lançada em Paris
afasta os personagens da visão inocente
Os pequenos seres azuis com gorros brancos criados pelo
ilustrador belga Peyo protagonizam de forma polêmica o livro Le Petit Livre Bleu (O Pequeno Livro Azul, em
tradução livre), de Antoine Buéno, lançado nesta quarta-feira na França. A obra
revela uma "utopia totalitária com pitadas stalinista e nazista", que
afasta os personagens da visão inocente da ocupada no imaginário popular.
Analisando desde o Papai Smurf, líder da comunidade,
até o corporativismo social, a obra apresenta um novo olhar sobre a aldeia
fictícia escondida no meio da floresta para defender sua tese.
O personagem Gargamel, cujo nariz, segundo o autor,
"lembra uma caricatura antissemita", e seu gato, que se chama Azrael
(Cruel, na versão brasileira), foram usados como exemplos de estereótipos,
assim como o perfil de beleza "ariano" de Smurfette, a única mulher do
povoado.
Para Buéno, o tratamento dado à aparição do Smurf negro
em um dos episódios é uma das provas do enaltecimento da pureza de sangue
existente nessa sociedade, que conta com um sistema de produção próximo ao
coletivismo.
Em declarações publicadas nesta quarta pela revista Le Nouvel Observateur, o
autor revela que sua análise não é inovadora, e contém inclusive relatos
anteriores sobre os personagens, como o de um americano que chegou a suspeitar
que os Smurfs faziam parte de uma campanha em referência ao comunismo.
Nesse sentido, o nome Smurf teria sido criado pelas
iniciais das palavras em
inglês Small , Men, Under, Red e Force" (Pequenos Homens
sob Forças Vermelhas, em tradução livre).
Para Buéno, Peyo, que nasceu em 1928 em Bruxelas e
viveu sob ocupação nazista na Bélgica, não teria tido consciência dessas
relações quando batizou os personagens.
"Peyo não era politizado... Acredito que sua obra,
como tantas outras, concentra um certo número de estereótipos próprios de uma
sociedade e uma época determinadas", assegurou o autor.
Sua intenção não é "desencantar" os fãs dos
Smurfs, mas sim "sobrepor à percepção das crianças uma visão diferente da
que é proporcionada pelos adultos", algo que considera
"intelectualmente saudável".
As aventuras dos Smurfs tiveram continuidade após a
morte de Peyo, em 1992, graças a seu filho Thierry Culliford, que concedeu, de
acordo com Buéno, uma visão "muito mais pedagógica" e contemporânea à
história.